... parte integrante da Mensagem de Fernando Pessoa, é a formulação poética mais perfeita - do meu ponto de vista - do(s) destino(s) de Portugal.
Todos os dias escrevemos a nossa história como nação. E hoje, também por isso, vamos assistir a mais do que um jogo de futebol. É, uma vez mais, o nosso encontro com o destino e com a história.
No entanto, em boa verdade, o resultado pouco interessa.
Como diz o refrão da música, "podemos não chegar à lua mas tirámos os pés do chão."
Força homem do leme, força Portugal!
IV
O Mostrengo
O mostrengo que está no fundo do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: "Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?"
E o homem do leme disse, tremendo:
"El-Rei D. João Segundo!"
"De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?"
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
"Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?"
E o homem do leme tremeu, e disse:
"El-Rei D. João Segundo!"
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
"Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!
(...)
Prece
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistaremos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!"
1 comentário:
PORTUGAL, OLÉ, PORTUGAL, OLÉ!
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