17 janeiro 2006

Em linha recta...

O confronto com a personalidade das pessoas é um factor incontornável das nossas vivências diárias.
Como é óbvio, dependendo dos dias, do humor e de outros factores nem sempre fáceis de explicitar, nem todos os traços de personalidade das pessoas com quem convivemos nos agradam.

Até aqui... tudo bem.
Mas se há traço de personalidade que detesto, em qualquer situação e em qualquer pessoa, é a arrogância, a suposta superioridade (intelectual e moral) que alguns julgam ter e que as faz projectar sobre os outros (aqueles que, supostamente, são menos capazes ou dotados intelectual e/ou moralmente) uma atitude de profundo desprezo e sobranceria.
É pois chegado o momento de, inequivocamente, dizer publicamente o que penso dessas pessoas:












Aí está. Não penso nada. Absolutamente nada.
Acho que não merecem um único segundo da minha atenção ou reflexão, para além dos que perdi ao escrever este texto e todos estes parágrafos ridículos para gerar um espaço em branco.
Estou, também eu, a ser arrogante e sobranceiro? Definitivamente.
Mas estou apenas a ser humano. Os outros, os supostamente superiores, estão a portar-se como semi-Deuses.
E para eles, que sabem quem são - perdidos nos seus castelos tão mesquinhos de rancores e invejas - dou-lhes com a alma, em linha recta:

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?"

Álvaro de Campos