20 setembro 2005

O tempo, o contexto e o eterno retorno

Em boa verdade não me recordo exactamente onde, nem quando, mas lembro-me de ter lido um texto em que se defendia que o soneto "Alma minha gentil" de Camões e a letra da música "There's a light and it never goes out" dos Smiths podiam ter sido escritos pela mesma "alma".
Importa esclarecer que sempre fui bastante céptico no que diz respeito a estas comparações.
Como bom Português que sou, a simples hipótese de comparação entre um poeta maior da nossa Língua e um cantor (o Morrisey é muito bom cantor, sem dúvida, mas ainda assim um cantor) pareceu-me totalmente descabida.
Hoje, também não sei bem porquê, decidi procurar a letra da dita canção no Google.
Concedo. À excepção dos elementos contextuais óbvios e visíveis (não existiam carros, nem autocarros de 2 andares ou camiões de 10 toneladas no século XVI) e ainda dos aspectos formais que distinguem um soneto de uma letra de música, qualquer um dos textos fala dos mesmos temas: amor, saudade, distância e desprendimento.
E por sinal, qualquer um deles é bastante bem escrito.

"Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,

roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou."

Luís de Camões

"Take me out tonight
Where there's music and there's people
And they're young and alive
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven't got one
Anymore

Take me out tonight
Because I want to see people and I
Want to see life
Driving in your car
Oh, please don't drop me home
Because it's not my home,
it's their Home,
and I'm welcome no more

And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Is such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure - the privilege is mine

Take me out tonight
Take me anywhere,
I don't care I don't care, I don't care
And in the darkened underpass
I thought Oh God, my chance has come at last
(But then a strange fear gripped me and I
Just couldn't ask)

Take me out tonight
Oh, take me anywhere,
I don't care I don't care, I don't care
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven't got one,
Oh, I haven't got one

And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Is such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure - the privilege is mine

There Is A Light And It Never Goes Out
There Is A Light And It Never Goes Out
There Is A Light And It Never Goes Out
There Is A Light And It Never Goes Out
There Is A Light And It Never Goes Out
There Is A Light And It Never Goes Out
There Is A Light And It Never Goes Out
There Is A Light And It Never Goes Out
There Is A Light And It Never Goes Out"

The Smiths

1 comentário:

calózita disse...

«Como bom Português que sou, a simples hipótese de comparação entre um poeta maior da nossa Língua e um cantor (o Morrisey é muito bom cantor, sem dúvida, mas ainda assim um cantor) pareceu-me totalmente descabida.»

poquês?????