02 maio 2006

Jimi plays Bob Dylan and myself...

Tenho uma relação estranha com a música.
Quem me conhece sabe que a música está presente em todos os momentos da minha vida.
Era-me extremamente simples, por exemplo, fazer a banda sonora de tudo o que me lembro de ter vivido: todos os grandes - bons e maus - momentos da minha vida têm uma música qualquer associada.
E é por isso que a minha relação com a música é estranha. Porque nem sempre gosto de recordar, nem sempre quero criar motivos para fazê-lo. Ou seja, nem sempre me apetece ouvir música e criar potenciais futuros recalcamentos.

Quando recebi este link senti um arrepio. Eu explico: ainda existe, em casa dos meus pais, uma cassete VHS com este concerto, que gravei por volta de 1990.
Nesta música, de tanto a ouvir, o som já está adulterado, tipo 45rpm, e a imagem aos saltos.
A música é, como se sabe, imitável. Um bom executante, com o equipamento certo, conseguiria reproduzir esta actuação do Jimi Hendrix em Atlanta.
Mas a imagem, o feeling, a recordação, esses, são inimitáveis.
Do ponto de vista formal/técnico esta música -
"All along the watchtower" - é um marco: o solo, brilhante, a meio da música (considerado, por muita gente, como o melhor solo de guitarra de sempre numa actuação ao vivo), é histórico.
Do ponto de vista pessoal, a forma como ele se engana no início da música e diz, posteriormente e com maior das naturalidades "As I was saying...", diz muito de mim nessa altura da minha vida.

*sigh*

Fabricar este som, em 1970, apenas com uma guitarra, um baixo e bateria é único.
Ouvi-lo, como eu ouvi em 1990, em circunstâncias muito especiais foi também único para mim.
Voltar a ouvi-lo, em 2006, é como ver certas fotografias e cartas antigas: neste caso, um exercício de puro prazer.


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