09 maio 2006

life: type real

Escrevo.
Escrevo a solidão? A beleza? A alegria? Mesmo o que devia ficar esquecido?
A escrita é um abandono, um passo em falso entre mim e a realidade, um acaso.
Escrevo a verdade? A mentira? Não, escrevo a vida.
A vida com olhos acima do céu, que não escapa às redes de malha curta de ter que a escrever.
Sempre que escrevo desisto.
E deixo-me, em pedaços, estilhaçado, no que escrevi.
E sigo neste movimento contínuo: de juntar os destroços em nova vida que vou voltar a escrever.
Escrevo a evolução? Sim, talvez. Com pesar e egoísmo.
As palavras são universais mas os destroços são os meus.
Mas as palavras que utilizo, para juntar os meus destroços, passam a ser só minhas.
Porque essas palavras, espartilhadas dos meus destroços, nada significam.
As palavras só são reais quando são construídas, destroçadas e reunidas outra vez.
As palavras apenas são ideias quando são vida.

Mas será que tudo se passa apenas assim?
Ou as palavras das vidas dos outros também são destroços das nossas?
É o mais belo poema que se pode escrever: o que ajuda os outros a reconhecer que muitos destroços são de todos:

"A poesia é o autêntico real absoluto.
Isto é o cerne da minha filosofia.
Quanto mais poético, mais verdadeiro."
Novalis

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