07 junho 2005

Acessorium sequitur principale

Faço parte de uma grande maioria que confessa, amargurada, andar a ler menos do que deseja.
E este facto é, nas circunstâncias actuais, pouco menos que uma tragédia.
Nestes tempos de indefinição política e social, de um relativismo moral atroz, é cada vez mais necessário ler. Ler para estar informado. Ler para poder informar. Ler para conseguir fundamentar as escolhas que diariamente temos de fazer.
Será que os nossos representantes, que escolhemos ciclicamente e a quem pagamos para tomarem decisões, também lêem?
Será que alguma vez leram o livro Siddhartha, de Hermann Hesse?

"(...) [N]ão aprecio as doutrinas, não têm dureza ou moleza, não têm cores, não têm arestas, não têm cheiro, não têm gosto, nada têm senão palavras. Talvez seja isso que te impede de encontrares a paz, talvez sejam as palavras em excesso. Porque também libertação e virtude (...) são meras palavras."

4 comentários:

calózita disse...

foge!
isto de ter amigos que falam (ou melhor, escrevem) latim é muita pinta!
olarilas.

ah! e biba as palavras! podem ser "meras" mas gosto mt delas.

;)

luis disse...

Eu também gosto de palavras. Se não gostasse como poderia ter um blog?
A crítica dirige-se a quem, no contexto político actual, as utiliza (em excesso) apenas para camuflar a inacção.
Se as suas palavras descrevessem uma decisão deixavam de ser meras palavras (acessorium) e passavam a descrever conceitos, ideias e propostas objectivas (principale).

calózita disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
calózita disse...

para cá de mim e para lá de mim, antes e depois.
e entre mim eu, isto é, palavras,
formas indecisas
procurando um eixo que
lhes dê peso, um sentido capaz de conter
a sua inocência
uma voz (uma palavra) a que se prender
antes de se despedaçarem
contra tanto silêncio.
são elas, as tuas palavras, quem diz «eu»;
se tiveres ouvidos suficientemente privados
podes escutar o seu coração
pulsando sob a palavra da tua existência,
entre o para cá de ti e o para lá de ti.
tu és aquilo que as tuas palavras ouvem,
ouves o teu coração (as tuas palavras «o teu coração»)?
manuel antónio pina ("tanto silêncio", Os livros, 1943)