20 junho 2005

Portugal, a agricultura e o meu pai

Não, não vou falar da Política Agrícola Comum. Não que não seja importante mas há assuntos, actualmente, bem mais importantes.
Recentemente assistiu-se em Portugal a uma manifestação de partidos nacionalistas que vieram para a rua agitar bandeiras de Portugal e dizer que têm orgulho em ser brancos e que a culpa disto estar como está é dos imigrantes.

O meu pai, depois de se reformar, tem-se dedicado à agricultura.
Uma das imagens mais fortes que guardo desta nova actividade a que ele se dedica é a da colocação do pau de medrar. O pau de medrar é um auxílio às plantas e árvores em crescimento ou desenraízadas para que elas se possam desenvolver correctamente, sem serem prejudicadas pelo vento, por outras plantas mais fortes ou pela tendência inata para crescerem tortas se não tiverem apoio.

Na minha opinião o Estado devia ser o pau de medrar de todos os (imensos) desenraízados existentes em Portugal. Devia, deste modo, garantir um direito integral e sem reservas a uma cidadania integral, sem exclusões.
Na minha opinião, a criminalidade organizada destes grupos de desenraízados existe porque, à semelhança do que acontece com a criminalidade praticada por indivíduos de outras etnias, eles não têm hipóteses de trabalhar, de descontar, de ter apoio na doença, de ter padrões de vida minimamente aceitáveis como a grande maioria dos cidadãos.
Se o Estado fosse um penhor destes apoios, destes paus de medrar, do ataque às causas sociais e culturais na génese destes actos, poderia haver uma política séria de punição dos transgressores. Com a força da lei e da autoridade moral de quem pode punir porque garante condições para que estes actos não ocorram, de quem garante a possibilidade de exercício de uma cidadania plena, com direitos e deveres.

Nós, os Portugueses, somos culturalmente a miscigenação, o equilíbrio, a síntese, a tolerância e não a imposição, a ruptura, a intolerância.
O meu pai, que é a pessoa maior do pequeno mundo que é o meu, já teve um filho (três, para que conste) e já plantou imensas árvores. Que eu saiba, para se encaixar naquele cliché ancestral do Ser Português, só ainda não escreveu um livro.
Mas, em compensação, já ajudou muitas pessoas, plantas e árvores a medrar. Com carinho, liberdade e tolerância mas sem negligenciar os deveres e responsabilidades.
E nunca utilizou os paus para punir. Apenas para ajudar a crescer.

2 comentários:

Clara Moreira disse...

É isso mesmo - Um pau de medrar! Que analogia magnifica!
Sem apoio é dificil de crescer. Deviamos ser todos paus de medrar.

Obrigado por este post.

so disse...

excelente metáfora.