13 junho 2005

Sobre a flexibilidade...

Ouvi um dia num filme qualquer (julgo que foi no filme Braveheart) que os homens inflexíveis são mais facilmente admirados. Pela pose, pela impenetrabilidade, pelo seguimento cego e determinado das suas ideias, pelas suas convicções, pelo olhar penetrante.
Em termos cognitivos, no entanto, foi provado em diversos estudos que uma característica fundamental da capacidade de aprendizagem é, precisamente, a flexibilidade: representacional, casuística, conceptual - isto é, a flexibilidade cognitiva. Valorizam-se, deste modo, múltiplas representações do conhecimento que contribuem para a construção de estruturas cognitivas mais fortes (em profundidade e horizontalidade - conhecimento conceptual e conhecimento declarativo) e que permitem uma resposta mais fundamentada em situações detentoras de novidade.
Ora... em que é que ficamos?
Eu respondo rapidamente: prefiro a flexibilidade de Eugénio de Andrade à inflexibilidade (notável, é um facto) de Álvaro Cunhal:

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,

ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.

É urgente inventar alegria,

multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor,
é urgente permanecer.

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